O Dinosaur Jr está de volta. Às lojas, com a reedição dos três primeiros e fundamentais álbuns do grupo, Dinosaur (85), You’re Living All Over Me (87) e Bug (88), que chegam ao Brasil pela distribuidora Peligro. E aos palcos, com a formação original, em uma turnê que lotou casas noturnas do EUA e Europa e passou passar por festivais como Reading, Leeds e Benicassin.
O retorno surpreende, uma vez que J Mascis (vocais e guitarra), Lou Barlow (vocais e baixo) e Murph (bateria) nunca se entenderam. A conturbada relação entre os integrantes, principalmente Mascis e Barlow, porém, servia de combustível para as incendiárias apresentações da banda. Mascis uma vez definiu os shows desse período como “psicodrama sobre o palco”. “Havia muita tensão entre nós”, diz Murph, minutos antes da passagem de som para um show em Amsterdã. “Uma vez o J ficou nervoso com o Lou e deu com a guitarra nele no meio de um show. O Lou só se defendia com o baixo. Naquele momento tive vontade de correr atrás dos dois, dar uma chave de pescoço em cada um deles e bater uma cabeça na outra. O pior foi a platéia ter pensado que era tudo uma piada. Recebi vários tapinhas nas costas de pessoas me cumprimentando pela cena”.
O episódio ficou famoso como o catalisador da saída de Barlow do grupo, pouco após o lançamento do terceiro álbum. “Fomos à casa do Lou e o J não falou nada. Ele nunca falava nada. Então eu comecei a falar, mas ele entendeu que estávamos acabando com a banda. Nós já tínhamos chamado outro baixista e estávamos com uma turnê na Austrália agendada. Quando o Lou ficou sabendo, ficou muito bravo e foi atrás de nós. Tivemos que agüentá-lo gritando por horas”.
Amigos de infância encantados com bandas da primeira leva do underground americano dos anos 80, principalmente as da gravadora SST, então lar do Sonic Youth, Black Flag e Meat Puppets, os dinossauros apareceram em 1985, surpreendendo a todos com um som que absorvia influências do country rock dos anos 70 e da new wave britânica, e trazia de volta os longos solos de guitarra, algo então fora de moda. Tudo soterrado por uma incrível avalanche de distorção e ruído e coroado pela sonolenta voz de Mascis. Não demorou para que fossem apadrinhados pelos ídolos Sonic Youth e, na sua primeira excursão pela Europa, endeusados pela crítica britânica.
O legado da fase inicial do Dinosaur Jr se estende pelos dois lados do Atlântico. No Reino Unido, são creditados como grande influência para o surgimento da cena shoegazer. “O Kevin Shields, do My Bloody Valentine, era nosso fã e nós éramos fãs dele. Nos influenciamos mutuamente”, diz Murph sobre o maior expoente do estilo. Nos EUA, fizeram a cabeça de toda uma geração do rock alternativo. “Ajudamos a pavimentar o caminho para algumas coisas legais dos anos 90, como o grunge”, acredita. Também foram alçados à condição de grandes representantes dos chamados slackers – a apática juventude classe média da época. Murph desdenha: “Nunca pensamos muito sobre isso. O J nunca foi um slacker. Ele trabalhava, fazia músicas. Acabou sendo rotulado porque não falava muito e gostava de ver TV”.
Poderia ter sido o Dinosaur Jr no lugar do Nirvana? Logo que Nevermind estourou, Barlow, bêbado, encontrou-se com Mascis e aos berros insultou-o, dizendo que sim. Mas a essa altura, a banda já tinha contrato com uma major e conhecia relativo sucesso sem Barlow, que seguiu gravando trabalhos no Sebadoh, Folk Implosion, Sentridoh e outros. “O Nirvana tinha química e era mais acessível que a gente. Acho que seríamos uma banda como o Metallica, não em termos de som, mas de carreira. Eles começaram underground e ficaram maiores a cada disco, nunca explodiram”. A banda, no entanto, encerrou suas atividades em meados dos anos 90.
Nesta nova encarnação, o clima entre os integrantes do grupo parece mais ameno. “É muito melhor hoje em dia, estamos muito mais maduros. O Lou trouxe a família, o bebê. Agora conseguimos nos dar bem”, atesta Murph. O futuro, porém, é incerto. O baterista ainda não sabe o que acontecerá depois do encerramento da turnê. O motivo é o mesmo de sempre: “Não conversamos sobre o assunto. O J não fala muito. Então não sabemos. Na verdade, ele não mudou muito de lá pra cá”.
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