Folha de São Paulo - 16/04/2005
Chega ao Brasil no mês que vem  o primeiro trabalho do produtor e  DJ americano Diplo. Intitulado  "Florida", em homenagem ao Estado onde ele passou boa parte da  infância e da adolescência, será  lançado pelo selo paulistano Slag  Records. Nele, Wesley Pentz  -seu nome de batismo- joga  segundo as regras das colagens de  batidas de hip hop downtempo  estabelecidas pelo DJ Shadow,  com quem tem sido comparado.
Introspectivo, de ares quase cinematográficos, o álbum cravou  um lugar em muitas listas de melhores do ano passado em revistas  e jornais estrangeiros. Uma faixa,  porém, destoa do resto do CD e  deve chamar a atenção dos brasileiros -que podem vê-lo ao vivo  no Tim Festival deste ano, evento  para o qual já foi sondado.
"Diplo Rhythm" une vocais do  jamaicano Vybz Cartel, da britânica Sandra Melody e dos funkeiros Pantera e os Danadinhos, que  entoam versos como "nós transamos todo dia, parecemos viciados/de manhã, de tarde, à noite, o  lance é namorar pelado".
"Os brasileiros que encontro  nos EUA dizem que o funk é a  maior porcaria que já saiu do  país", fala, direto de seu estúdio  na Filadélfia, no dia seguinte a  uma apresentação com a namorada M.I.A. "As pessoas aqui pensam o mesmo do hip hop dirty  south. Eu acho demais. Vou atrás  de coisas com energia. Se fosse  brasileiro, teria orgulho do funk."
Não por acaso, tanto o dirty  south (o rap malemolente do sudeste americano) quanto o "baile  funk" são descendentes diretos  do Miami Bass, que serviu como  trilha para seus anos na Flórida.
O primeiro contato com o pancadão veio no ano passado através de amigas argentinas. "Elas  chegaram com uma fita de funk.  Eram umas músicas mais antigas,  mas eu fiquei louco com aquilo.  Para mim era como punk rock."
Gostou tanto que decidiu vir ao  Brasil. Duas vezes. Na primeira,  perdeu um bom tempo até descobrir que não era nas lojas de discos que deveria procurar o estilo.  "Era como se aquilo não existisse.  Eu ficava pensando se essa música era underground a ponto de  não ser encontrada em nenhuma  loja. Mas em qualquer táxi só tocava funk. Então vi que o caminho eram os camelôs."
Já enturmado, quando vem ao  país, freqüenta bailes de periferia  com Marlboro e filmou numa favela o clipe de "Diplo Rhythm".
Em "Florida", Diplo mostra seu  lado mais tranqüilo, mas é atuando como produtor que se tornou  um dos nomes mais requisitados  do cenário eletrônico atual, justamente por injetar elementos "rebolativos" no trabalho de outros  artistas. Entre suas colaborações,  estão parcerias com Prefuse 73, Le  Tigre e Kano, promessa da fervilhante cena grime (o novo hip  hop eletrônico britânico).
Nenhuma delas, porém, tem sido comentada como "Bucky Gone Down", faixa de "Arular", álbum de estréia de M.I.A. A cantora cingalesa radicada em Londres recita letras políticas -seu pai foi guerrilheiro no Sri Lanka- em cima de bases explosivas, fundindo hip hop, dancehall, grime, ritmos asiáticos e funk carioca.
Quando discoteca, Diplo joga  para a torcida. Começou a forjar  seu estilo quando tinha 16 anos,  tocando Led Zeppelin, Beastie  Boys e James Brown para famílias  de classe média e em um hotel em  Daytona Beach, cidade próxima  ao local onde seus pais possuíam  uma loja de iscas. Já formado na  faculdade de cinema e trabalhando como professor, cuidava da  trilha sonora dos bailes da escola.  "Eu toco coisas que a molecada  gosta: house mais louco, dirty  south, hip hop. Eles amam."
Passou a ser convidado para tocar em outras escolas. "Hoje em  dia, às vezes me chamam para  discotecar por uma grana inacreditável, coisa que eu nunca imaginaria ganhar. Eu fazia essas festas  por US$ 50 [R$ 129]. Fazia de graça, se fosse o caso. Quando os professores se divertiam, chegavam a  pagar US$ 75 [R$ 193]."
Decidido a viver de música, alugou um clube na Filadélfia com o  parceiro Low Budget e inventou a  festa semanal Hollertronix, em  que acrescentou uma boa dose de  pop dos anos 80 ao som que tocava nas festinhas escolares. Resultado: foi eleita uma das melhores  de 2003 pelo "New York Times".
Uma busca pelos programas de  compartilhamento de arquivos  pode trazer como resultado algumas das melhores provas das habilidades de Diplo com os toca-discos: as mixtapes "Piracy Funds  Terrorism - Vol.1" (funk carioca,  M.I.A., anos 80), "Hollertronix T5  Soul Sessions" (anos 80) e "Favela  on Blast" (funk carioca).
 
 
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