matéria minha sobre o Dan Deacon que saiu na nova edição da revista +Soma. Dá pra baixar a revista em PDF aqui.
“VOCÊ ACREDITA EM DEUS?”
Quem pergunta é Marcelo Altenfelder, o Pata, integrante da jovem banda paulistana Holger. Sentado em frente a ele, na ponta de uma imensa mesa, lotada e disposta no melhor estilo “família vai à cantina” em um bar da Vila Madalena, está Dan Deacon, o cara que chamou a atenção para Baltimore como uma das mais empolgantes cenas musicais surgidas nos últimos anos.
“Claro. Em todos eles.”
“Você acredita que uma pessoa pode ser Deus por alguns instantes? Que você pode ser Deus?”
“DEFINITIVAMENTE”
De fato, o gordinho careca de óculos havia, poucas horas antes, freqüentado o panteão de deuses temporários de muitos dos presentes na arena armada no Parque do Ibirapuera para mais uma edição do Tim Festival. A maior parte, provavelmente, nunca havia ouvido falar dele, o que tornas as coisas mais interessantes.
“Não sei bem porque este festival me chamou”, disse Deacon pouco depois de chegar ao país. A dúvida fazia sentido, uma vez que parte da produção do evento não fazia idéia de que ele faria um show ao vivo e não um DJ set. Alguns até mostraram surpresa quando souberam que ele tocaria no chão, uma de suas marcas registradas.
E FOI DO CHÃO QUE ELE
COMANDOU A CONVERSÃO: A
“BLASÉLÂNDIA” PAULISTANA
DEIXOU SUA EMPÁFIA TÍPICA
DE LADO E CAIU NA FOLIA
REGIDA PELO GORDUCHO QUE
ENCHARCAVA DE SUOR A PUÍDA
CAMISETA DE COR CÍTRICA, OUTRA
CONSTANTE DE SEUS SHOWS.
Pilotando uma mesa repleta de tralhas low- tech (Casiotone, pedais, um sem-fim de cabos, um iPod Shuffle, uma caveira que brilha no escuro), ele fez todos dançarem e os sorrisos se multiplicarem ao som de uma eletrônica torta, às vezes quase cafona, mas ao mesmo tempo vanguardista e pesada, muito pesada. Sua voz, distorcida pelos pedais, sai caricata, e é assim que ele organiza um concurso de danças e um túnel de festa junina, entre outras situações pouco prováveis para os que carimbam anualmente seu passaporte do verniz cultural no festão alterna-corporativo.
“Realmente gosto de dar ordens”, brinca Deacon. O assunto não é o show, mas o Round Robin, projeto que o músico concebeu e capitaneou até duas semanas antes de vir ao Brasil. Eram vinte bandas – a maioria do coletivo Wham City, de Baltimore, que Deacon ajudou a criar – rodando os Estados Unidos e o Canadá em um ônibus escolar movido a biodiesel, se apresentando em grandes galpões, com cinco palcos no chão, por duas noites seguidas.
Idéias como esta surgem a todo instante na cabeça de Deacon. No carro, inspirado pela onipresença do concreto da paisagem paulistana, inventa um conto e divide com os companheiros de viagem. No bar, propõe novas turnês e acampamentos itinerantes.
DEACON ESTÁ ACOSTUMADO,
REGIDO PELA ÉTICA DIY, A BOTAR
COISAS EM PRÁTICA. “NÃO É
QUESTÃO DE DINHEIRO”, DIZ A
TODO MOMENTO.
Como que para provar, decide fazer um show surpresa, na mesma noite em que saiu consagrado do festival. O lugar escolhido é o estúdio Sala 222, de Sérgio Ugeda, integrante da banda Debate e cabeça do selo Amplitude e da produtora Tronco. Cerca de quarenta pessoas revivem com intensidade turbinada por muitas doses de drinques os momentos do show anterior, só que condensados em um cubículo do tamanho de um quarto de casal.
“Vamos levantar esse baixinho aí”, ordena, e lá vai um fã ser passado de mão em mão em um minicrowd surf. Entre os presentes, está Joshua Lee Kelberman, do duo Santa Dads e amigo de Deacon desde a faculdade. Deacon dispensa empresários e técnicos de som e prefere levar amigos em suas turnês. Kelberman foi o sortudo da vez. “Foi Dan quem me incentivou a fazer música. Eu achava que música era só pra quem tinha um certo dom. Ele me mostrou que qualquer um pode fazer música.”
Por causa de Joshua, natural de Baltimore, Deacon se estabeleceu por ali. “Eu era pobre, e lá era barato”, resume. Foi lá que nasceu a Wham City, uma turma de artistas multimídia instalados em um galpão-residência-casa- de-shows sob a inspiração de outro coletivo semelhante, o Fort Thunder, surgido em Rhode Island nos anos 90, capitaneado pela insana dupla Lightning Bolt. “Brian Chippendale (quadrinista e baterista do L. Bolt) é meu maior ídolo. Nós até somos meio amigos. Uma vez mandei um e-mail falando o quanto ele era importante para mim e ele respondeu perguntando se eu estava bêbado. Claro que eu estava”, conta Deacon.
No backstage, após o show no festival, Deacon pede alguns minutos para relaxar. “Foi bom o show? Não vejo nada quando estou tocando.” Antes de sair, pede para que ajudemos a limpar o camarim. “Esse serviço fica sempre para os mais pobres. Não acho justo.” Que Dan não se surpreenda se, depois da curta passagem pelo país, ele passar a receber e-mails bêbados vindos do Brasil.
5 comentários:
que foda dagooo!
sensacional.
Cada dia curto mais esse cara!
E parabéns Dago, puta matéria FODA!
eu acredito no seu abraço, dago.
no seu amor.
eu amo você.
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