29 de out. de 2009
o futuro (do pretérito) do funk
O dubstep, o grime e o UK funky, como todo gênero musical, evoluíram e começam a gerar suas crias. Deles, brotou um filhote ainda em formação, que vem sendo chamado de funkstep ou dubbage. Pense em algo como dubstep descobre Prince e você começa a entender do que estou falando. Adicione house, R&B e até soca à mistura e temos uma versão do gênero que não espanta as garotas da pista. A última edição da XLR8R deu capa ao tal funk mutante, apresentando Geeneus, Roska e Cooly G como destaques da cena. Enquanto isso, o blog Masala aponta para o pessoal que está misturando o UK funky com dancehall.
Em outros cantos do mundo, o funk renasce olhando pra trás. De Los Angeles, Dâm-Funk capitanea a onda tomando como base o electro-funk do começo dos anos 80. Daí, em menor ou menor grau, os novos funkeiros conduzem o gênero por caminhos diversos e às vezes improváveis, utilizando-o mesclado a psicodelia, idm, colagens ou o que for. Vale prestar atenção em gente como Sweat.X (do hit "I'm That Alley"), Gosub, Jimmy Edgar, Nite Jewel, Rustie... Até mesmo o Hudson Mohawke bebe bastante nessa fonte. Então se prepara pra dançar e, como eles todos, redescobrir o Egyptian Lover dentro de você.
22 de out. de 2009
pop montreal - dia 5
Dia de Piknic Életronik. Trata-se de uma festa que rola todos os domingo durante o verão e início do outono no parque Jean Drapeau, em uma ilha, de frente pra cidade. O lugar é incrível e a vibe nem se fala. Esse ano, esta data do Piknic foi incorporada ao festival. Pena que tava chovendo. De qualquer forma, colei pra ver o Valeo. Pena que ele não conseguiu vir para o Brasil com o Poirier, porque ele destrói. Manda funk carioca, kuduro, cumbia digital, dubstep, reggaeton e o que mais viesse num set impecável. Missão 2010: coseguir trazê-lo pra tocar na Explode. Depois teve o DJ/Rupture, que esfriou o clima com meia hora de cumbia roots antes de entrar num set fraquinho. Fugi da chuva e fui descansar pra noite.
Fui passar o som - sim, DJ também passa o som, haha - e descobri que, além do Lemonade e do Cadence Weapon, o Tanlines também tocaria. Massa, porque não os tinha visto abrindo para Os Mutantes, por razões óbvias. Descobri também que ia tocar com o equipamento do Cadence Weapon. Beleza.
Era a festa de encerramento do festival, só pra convidados, bandas, organizadores e voluntários. O local era o mesmo Clube Lambi onde o Holger tinha tocado na primeira noite, casa pra umas 500 pessoas. Quem abriu foi o Lemonade, pegando a casa enchendo aos poucos e o público começando a esquentar. Mas, ao contrário da noite anterior, fizeram um show cabuloso. As músicas do disco novo, que ainda não tá pronto, conseguem ser melhores que as do primeiro, e som é um dançante encontro entre a Madchester do Happy Mondays e o revival pós-punk nova-iorquino de gente como o !!!. Tudo temperado com influências globais, principalmente latinas e asiáticas. E um baterista que é um monstro.
Tanlines foi ainda melhor. A dupla do Brooklyn foi abraçada por um quem é quem do hype - os selos True Panther Sounds (Girls, Lemonade) e Young Turks (XX, Wavves, El Guincho), faixa em coletâea da Kitsuné - e, incrivelmente, não soa como nada que poderia alcançar tal feito. Mistura eletrônica lo-fi com com beats programados e guitarra e percussão tocadas ao vivo, produzindo um som ao mesmo tempo hipnótico e dançante.
Aí veio o Cadence Weapon. Esse eu já tinha visto no Texas e sabia que era foda. Mas em casa - ele é de Edmonton, mas vive em Montreal - o jogo tava mais que ganho. Ainda mais com o clima de festa que rolava. O cara é muito bom no palco. O público vai junto. Acabado o show, ele o DJ começaram a festa, e começaram a invadir meu horário. Beleza, tava me divertindo. Aí o stage manager surtou e praticamente expulsou-os de lá.
Então entrei pra fazer meu set e foi uma loucura. Não dá pra descrever muito porque fiquei naquele transe de palco fudido. Só sei que na segunda música o palco já tava lotado de gente dançando, incluindo o pessoal das três bandas anteriores. Foi inacreditável. Nunca esperava uma recepção assim. O clima se manteve mesmo com as luzes do clube acesas. Aí, quando não dava mais pra segurar, cortaram meu som e saí aplaudido, tipo show. Incrível.
Seguiu-se então uma sequência de conversas surreais pra mim. Tipo o Cadence Weapon e o DJ dizendo que, se soubessem que ia ser tão bom, teriam saído bem antes. Ou o baterista do Lemonade surtando porque toquei De Lorean com Deize Tigrona. E a equipe do clube dizendo que foi a primeira vez que eles viram alguém conseguir tocar depois do Cadence Weapon. Ou um dos Tanlines perguntando sobre minhas tours na Europa. Haha. Pra terminar, ainda teve uma after party na Federação Ucraniana. E fui dormir às 9 da manhã. Esperando o festival do ano que vem.
Fui passar o som - sim, DJ também passa o som, haha - e descobri que, além do Lemonade e do Cadence Weapon, o Tanlines também tocaria. Massa, porque não os tinha visto abrindo para Os Mutantes, por razões óbvias. Descobri também que ia tocar com o equipamento do Cadence Weapon. Beleza.
Era a festa de encerramento do festival, só pra convidados, bandas, organizadores e voluntários. O local era o mesmo Clube Lambi onde o Holger tinha tocado na primeira noite, casa pra umas 500 pessoas. Quem abriu foi o Lemonade, pegando a casa enchendo aos poucos e o público começando a esquentar. Mas, ao contrário da noite anterior, fizeram um show cabuloso. As músicas do disco novo, que ainda não tá pronto, conseguem ser melhores que as do primeiro, e som é um dançante encontro entre a Madchester do Happy Mondays e o revival pós-punk nova-iorquino de gente como o !!!. Tudo temperado com influências globais, principalmente latinas e asiáticas. E um baterista que é um monstro.
Tanlines foi ainda melhor. A dupla do Brooklyn foi abraçada por um quem é quem do hype - os selos True Panther Sounds (Girls, Lemonade) e Young Turks (XX, Wavves, El Guincho), faixa em coletâea da Kitsuné - e, incrivelmente, não soa como nada que poderia alcançar tal feito. Mistura eletrônica lo-fi com com beats programados e guitarra e percussão tocadas ao vivo, produzindo um som ao mesmo tempo hipnótico e dançante.
Aí veio o Cadence Weapon. Esse eu já tinha visto no Texas e sabia que era foda. Mas em casa - ele é de Edmonton, mas vive em Montreal - o jogo tava mais que ganho. Ainda mais com o clima de festa que rolava. O cara é muito bom no palco. O público vai junto. Acabado o show, ele o DJ começaram a festa, e começaram a invadir meu horário. Beleza, tava me divertindo. Aí o stage manager surtou e praticamente expulsou-os de lá.
Então entrei pra fazer meu set e foi uma loucura. Não dá pra descrever muito porque fiquei naquele transe de palco fudido. Só sei que na segunda música o palco já tava lotado de gente dançando, incluindo o pessoal das três bandas anteriores. Foi inacreditável. Nunca esperava uma recepção assim. O clima se manteve mesmo com as luzes do clube acesas. Aí, quando não dava mais pra segurar, cortaram meu som e saí aplaudido, tipo show. Incrível.
Seguiu-se então uma sequência de conversas surreais pra mim. Tipo o Cadence Weapon e o DJ dizendo que, se soubessem que ia ser tão bom, teriam saído bem antes. Ou o baterista do Lemonade surtando porque toquei De Lorean com Deize Tigrona. E a equipe do clube dizendo que foi a primeira vez que eles viram alguém conseguir tocar depois do Cadence Weapon. Ou um dos Tanlines perguntando sobre minhas tours na Europa. Haha. Pra terminar, ainda teve uma after party na Federação Ucraniana. E fui dormir às 9 da manhã. Esperando o festival do ano que vem.
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14 de out. de 2009
pop montreal - dia 4
Dia intenso. Começou comigo participando de dois debates. O primeiro, junto com Don Wilkie (Constellation Records, de Montreal), Violaine Didier (Nuits Sonores Festival, de Lion), Maximillian Lawrence (Space 1026, da Filadélfia) e Kalle Lundgren (Pitch & Smith Booking Agency, de Estocolmo) tinha como tema "Ecologia de uma cena: cultura independente de Estcolmo a São Paulo". A contraposição de diferentes realidades e ecossistemas foi bem interessante, embora o debate tenha sido curto. O outro, foi uma série de mini-palestras discotecadas, com o tema "Música das ruas do mundo", em que dividi a mesa com os etnomusicólogos Wayne Marshall (Wayne and Wax) e Briam Shimkovitz (Awesome Tapes From Africa) e os DJs Valeo (Masala) e Jace Clayton (mais conhecido como DJ/Rupture). Sobre este, basta dizer que, se não estivesse na mesa, gostaria muito de estar na plateia, principalmente pra ver a parte de Wayne e seu "To Meme or Not To Meme", genial acompanhamento de uma certa melodia jamaicana na medida em que ela é reproduzida através dos anos em diferentes lugares e gêneros musicais. Ótimo.
Comecei a noite vendo o Faust na Federação Ucraniana. Confesso que comecei a cochilar antes de o show começar e o cochilo foi show adentro durante as primeiras músicas. Sentar em festival dá nisso. O show em si foi bom, eles tocaram clássicos e coisas novas, mas, muitas vezes, algumas coisas me pareceram caricatas - coisas que na época áurea da banda deviam ser geniais. O mais legal é ver que eles ainda se divertem no palco e acreditam no que fazem. E, pô, vou poder contar pros meus filhos - é lógico que eles não vão se interessar - que já vi "Sad Skinhead" ao vivo.
De lá, fui ver o Lemonade. Bom, vou dizer que não gostei muito desse show deles. O pior é que, no dia seguinte, a mesma banda me deixou impressionado. Então falo sobre eles no próximo post. Saí pra ver o Holger tocando em uma festa fechada. Era numa casa, na sala da casa, com cerveja e nachos grátis. A parada era caótica, ou seja, perfeita pra eles, que mais uma vez ganharam o público, apesar do som zoado.
Aí fui ver o Think About Life, que me deixou de queixo caído. O lugar tava lotado, a banda é amada na cidade. O trio é composto por um baterista, um guitarrista e o vocalista figura Martin. A vocalista do Shapes and Sizes (ela é do Miracle Fortress também, uma das bandas mais fudidas de Montreal) participou de quase todo show. O som tem muita eletrônica e o vocal parece sempre fora do lugar, Martin é um soulman sem voz com postura de rapper. Quem acompanha o Bima sabe que adoro shows em que rola simbiose entre banda e público. O Think About Life é mais um caso extremo. Stage dive, invasão de palco, inside jokes e músicas na ponta da língua da plateia. Puta show. Depois ainda rolou after party monstra no Il Motore - e carona na van do Lemonade de volta pro hotel.
Comecei a noite vendo o Faust na Federação Ucraniana. Confesso que comecei a cochilar antes de o show começar e o cochilo foi show adentro durante as primeiras músicas. Sentar em festival dá nisso. O show em si foi bom, eles tocaram clássicos e coisas novas, mas, muitas vezes, algumas coisas me pareceram caricatas - coisas que na época áurea da banda deviam ser geniais. O mais legal é ver que eles ainda se divertem no palco e acreditam no que fazem. E, pô, vou poder contar pros meus filhos - é lógico que eles não vão se interessar - que já vi "Sad Skinhead" ao vivo.
De lá, fui ver o Lemonade. Bom, vou dizer que não gostei muito desse show deles. O pior é que, no dia seguinte, a mesma banda me deixou impressionado. Então falo sobre eles no próximo post. Saí pra ver o Holger tocando em uma festa fechada. Era numa casa, na sala da casa, com cerveja e nachos grátis. A parada era caótica, ou seja, perfeita pra eles, que mais uma vez ganharam o público, apesar do som zoado.
Aí fui ver o Think About Life, que me deixou de queixo caído. O lugar tava lotado, a banda é amada na cidade. O trio é composto por um baterista, um guitarrista e o vocalista figura Martin. A vocalista do Shapes and Sizes (ela é do Miracle Fortress também, uma das bandas mais fudidas de Montreal) participou de quase todo show. O som tem muita eletrônica e o vocal parece sempre fora do lugar, Martin é um soulman sem voz com postura de rapper. Quem acompanha o Bima sabe que adoro shows em que rola simbiose entre banda e público. O Think About Life é mais um caso extremo. Stage dive, invasão de palco, inside jokes e músicas na ponta da língua da plateia. Puta show. Depois ainda rolou after party monstra no Il Motore - e carona na van do Lemonade de volta pro hotel.
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9 de out. de 2009
pop montreal - dia 3
O dia começou com uma longa caminhada até a sede da Constellation, onde pudemos comprar vinis a US$10 (ou US$15 os duplos) e ganhamos um monte de pôsteres. Depois, bagel com cream cheese na St-Viateur (dizem, e eu acredito, que os melhores do mundo são feitos nessa rua). Mas o melhor de tudo veio de noite, com show do Yo La Tengo. Disparado, o melhor do festival.
É incrível como, por duas horas seguidas, eles conseguem ser tão perfeito. E não parecem fazer nenhum esforço pra isso. E isso não quer dizer falta de vontade. A vontade está lá, estampada na cara dos três, seja nas longas viagens instrumentais, seja num punk rock barulhento. Dá gosto de ver uma banda com tantos anos de estrada ainda tocando desse jeito. E no bis ainda rolou "Speeding Motorcycle", do Daniel Johnston. E no segundo bis teve cover de um daqueles rockões do Neil Young - só não me pergunta qual era a música.
Depois, ainda deu tempo de passar pra ver o Shapes and Sizes, competentíssimo tesouro da cidade, praticando indie rock torto, com muitas nuances e uma vocalista incrível. Ainda dava pra tentar pegar o Japandroids num lugarzinho pequeno, mas eu tava morto. E precisava descansar pro fim de semana.
É incrível como, por duas horas seguidas, eles conseguem ser tão perfeito. E não parecem fazer nenhum esforço pra isso. E isso não quer dizer falta de vontade. A vontade está lá, estampada na cara dos três, seja nas longas viagens instrumentais, seja num punk rock barulhento. Dá gosto de ver uma banda com tantos anos de estrada ainda tocando desse jeito. E no bis ainda rolou "Speeding Motorcycle", do Daniel Johnston. E no segundo bis teve cover de um daqueles rockões do Neil Young - só não me pergunta qual era a música.
Depois, ainda deu tempo de passar pra ver o Shapes and Sizes, competentíssimo tesouro da cidade, praticando indie rock torto, com muitas nuances e uma vocalista incrível. Ainda dava pra tentar pegar o Japandroids num lugarzinho pequeno, mas eu tava morto. E precisava descansar pro fim de semana.
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6 de out. de 2009
indie no brasil é piada
Bom, o Lúcio levantou uma discussão sobre a qual vale dar meus 50 centavos, mesmo porque ele cita o "fim da Peligro" no meio dela. Algumas coisas precisam ser ditas.
1. Não existe nem nunca existiu indie no Brasil. Indie não é usar all star e gostar do Oasis. Indie não é frequentar a Funhouse ou se emocionar quando o Guab toca Radiohead. Isso é o estereotipo de indie que se criou no Brasil. Indie não é nem nunca foi um gênero musical, caralho. Indie rock é um gênero musical, assim como o indie pop. Indie é um modo de encarar a música e seu mercado. Tô num lugar, Montreal, onde realmente existe uma comunidade independente. No Brasil, só existe cena e os scenesters. O que é algo bem diferente. Aqui indie não é tribo-matéria-do-Folhateen. Indie é quem de alguma maneira se envolve com música ou arte independente em geral, seja criando, divulgando, marcando shows, escrevendo sobre, discotecando, fundando uma gravadora, abrindo um clube, fazendo pôsteres, assistindo aos shows ou o que seja, buscando uma maneira de fazer suas coisas fora do mercado corporativo. Não existe morte ou renascimento do indie no Brasil porque simplesmente ele nunca existiu. Indie brasileiro é tão ridículo quanto skinhead brasileiro. Conceitos deturpados pela falta de educação e informação da nossa classe média.
2. Aqui o indie é fã de música, não de gêneros. Tô de saco cheio de neguinho que se acha ultra-radical ficar pedindo a porra da bandinha inglesa do momento ou a mesma do MGMT toda noite. O que tem de radical nisso? E da Inglaterra só tem saído merda ultimamente - isso é outro papo, mas foda-se. Aqui, a mesma pessoa que se empolga com o pop dançante aprovado pela Pitchfork do Lemonade, assiste, na mesma noite, o DJ/Rupture misturar cumbia e dubstep. Sim, eles estão fazendo shows juntos. No Brasil, o indie é tão burro, mal-informado e limitado quanto o fã de axé ou de música sertaneja. Com um agravante: a arrogância.
3. Tive a honra de participar de um debate ao lado de Don Wilkie, um dos fundadores da Constellation Records, tremenda fonte de inspiração em tudo o que faço relacionado à música. Na tarde anterior, fui à sede da gravadora e fiquei chocado com o que eles conseguiram. Isso, cobrando preços honestos, nunca utilizando trabalho "escraviário", sempre respeitando seus consumidores, nunca fazendo concessões e sempre norteando seus lançamentos pela qualidade tanto artística - o que é subjetivo - quanto gráfica e dos materias utilizados em seus produtos. No debate, falávamos sobre comunidade independente - eu eu disse que em São Paulo não havia uma -, quando ele citou o exemplo do Godspeed You Black Emperor!, a banda que mais vendeu dentro do selo e que investiu tudo o que ganhou de volta na comunidade. Ajudaram a montar a Constellation, montaram um estúdio - o hoje famoso Hotel2Tango -, abriram um café com espaço pra shows e uma casa de shows de médio porte. Resultado: colocaram Montreal no mapa da música que importa no mundo. Se hoje a cidade exporta Arcade Fire e A-trak, Islands e Malajube, boa parte da culpa é deles, que criaram um ambiente para que a música boa florescece.
4. Fui no show do Think About Life. Você não deve conhecer a banda, embora isso poderia te fazer bem. Era longe, tava frio, um monte de bandas mais conhecidas tocavam na mesma noite. E o lugar tava lotado. Lotado de moleques surtando, fazendo stage dive, invadindo o palco. O indies velhos também tavam lá. Por que? A resposta, pra quem mora aqui, parecia óbvia: "Eles são daqui". Claro, o público local apoia as bandas locais. Tá certo que o show dos caras ajuda. Puta show, por sinal.
5. A Peligro, ao contrário do que diz o Lúcio, nunca foi uma festa indie no sentido brasileiro do termo. Era uma festa de bandas e discotecagem. Em termos de banda, recebemos do tecnobrega Tecno Show e o funk da Deize Tigrona aos inclassificáveis experimentadores como Lavajato e Índios Eletrônicos, além de muito hip hop e música eletrônica. Isso, fora a Mallu Magalhães. Claro que tinha muito rock entre as bandas, mas era só mais um elemento. Assim como nos meus sets. Sabe quanto mudei meu set da Peligro pra Explode? Nada. No mais, quero bem longe de mim o público que ainda sai na noite pra ouvir a mesma do Strokes. Quero pra mim a molecada que saca que Buju Banton é tão bom quanto Dirty Projectors, e que se pode dançar com Phoenix e Vampire Weekend, mas também com Cool Kids, Very Best e as coisas da ZZK. E eles tão aparecendo no Neu toda sexta e se divertindo muito. E gritando e se jogando no chão. Nada me deixa mais feliz que isso.
6. Bom, dito tudo isso, quero ressaltar que gosto muito do Lúcio e sempre fui defensor do papel dele como jornalista pop. Acho que ele cumpre uma função necessária. E é gente boa. Esse lance da coluna dele foi só um estopim pra eu botar aqui algumas coisas que eu penso faz tempo.
7. Tô escrevendo isso no vácuo de uma semana de sonho em Montreal, vendo shows incríveis, conhecendo ídolos, vendo o Holger representar e ganhar muitos fãs por aqui, e tocando no encerramento do Pop Montreal numa noite que vai ser difícil de esquecer - o público invadiu o palco e ficou dançando em cima, não ia embora nem com as luzes do clube acesas; nunca na minha vida recebi tanto elogios por um set; e saí de lá aplaudido pela plateia. Sem tocar aquela do MGMT.
ps gosto muito do MGMT. Do disco, pelo menos.
1. Não existe nem nunca existiu indie no Brasil. Indie não é usar all star e gostar do Oasis. Indie não é frequentar a Funhouse ou se emocionar quando o Guab toca Radiohead. Isso é o estereotipo de indie que se criou no Brasil. Indie não é nem nunca foi um gênero musical, caralho. Indie rock é um gênero musical, assim como o indie pop. Indie é um modo de encarar a música e seu mercado. Tô num lugar, Montreal, onde realmente existe uma comunidade independente. No Brasil, só existe cena e os scenesters. O que é algo bem diferente. Aqui indie não é tribo-matéria-do-Folhateen. Indie é quem de alguma maneira se envolve com música ou arte independente em geral, seja criando, divulgando, marcando shows, escrevendo sobre, discotecando, fundando uma gravadora, abrindo um clube, fazendo pôsteres, assistindo aos shows ou o que seja, buscando uma maneira de fazer suas coisas fora do mercado corporativo. Não existe morte ou renascimento do indie no Brasil porque simplesmente ele nunca existiu. Indie brasileiro é tão ridículo quanto skinhead brasileiro. Conceitos deturpados pela falta de educação e informação da nossa classe média.
2. Aqui o indie é fã de música, não de gêneros. Tô de saco cheio de neguinho que se acha ultra-radical ficar pedindo a porra da bandinha inglesa do momento ou a mesma do MGMT toda noite. O que tem de radical nisso? E da Inglaterra só tem saído merda ultimamente - isso é outro papo, mas foda-se. Aqui, a mesma pessoa que se empolga com o pop dançante aprovado pela Pitchfork do Lemonade, assiste, na mesma noite, o DJ/Rupture misturar cumbia e dubstep. Sim, eles estão fazendo shows juntos. No Brasil, o indie é tão burro, mal-informado e limitado quanto o fã de axé ou de música sertaneja. Com um agravante: a arrogância.
3. Tive a honra de participar de um debate ao lado de Don Wilkie, um dos fundadores da Constellation Records, tremenda fonte de inspiração em tudo o que faço relacionado à música. Na tarde anterior, fui à sede da gravadora e fiquei chocado com o que eles conseguiram. Isso, cobrando preços honestos, nunca utilizando trabalho "escraviário", sempre respeitando seus consumidores, nunca fazendo concessões e sempre norteando seus lançamentos pela qualidade tanto artística - o que é subjetivo - quanto gráfica e dos materias utilizados em seus produtos. No debate, falávamos sobre comunidade independente - eu eu disse que em São Paulo não havia uma -, quando ele citou o exemplo do Godspeed You Black Emperor!, a banda que mais vendeu dentro do selo e que investiu tudo o que ganhou de volta na comunidade. Ajudaram a montar a Constellation, montaram um estúdio - o hoje famoso Hotel2Tango -, abriram um café com espaço pra shows e uma casa de shows de médio porte. Resultado: colocaram Montreal no mapa da música que importa no mundo. Se hoje a cidade exporta Arcade Fire e A-trak, Islands e Malajube, boa parte da culpa é deles, que criaram um ambiente para que a música boa florescece.
4. Fui no show do Think About Life. Você não deve conhecer a banda, embora isso poderia te fazer bem. Era longe, tava frio, um monte de bandas mais conhecidas tocavam na mesma noite. E o lugar tava lotado. Lotado de moleques surtando, fazendo stage dive, invadindo o palco. O indies velhos também tavam lá. Por que? A resposta, pra quem mora aqui, parecia óbvia: "Eles são daqui". Claro, o público local apoia as bandas locais. Tá certo que o show dos caras ajuda. Puta show, por sinal.
5. A Peligro, ao contrário do que diz o Lúcio, nunca foi uma festa indie no sentido brasileiro do termo. Era uma festa de bandas e discotecagem. Em termos de banda, recebemos do tecnobrega Tecno Show e o funk da Deize Tigrona aos inclassificáveis experimentadores como Lavajato e Índios Eletrônicos, além de muito hip hop e música eletrônica. Isso, fora a Mallu Magalhães. Claro que tinha muito rock entre as bandas, mas era só mais um elemento. Assim como nos meus sets. Sabe quanto mudei meu set da Peligro pra Explode? Nada. No mais, quero bem longe de mim o público que ainda sai na noite pra ouvir a mesma do Strokes. Quero pra mim a molecada que saca que Buju Banton é tão bom quanto Dirty Projectors, e que se pode dançar com Phoenix e Vampire Weekend, mas também com Cool Kids, Very Best e as coisas da ZZK. E eles tão aparecendo no Neu toda sexta e se divertindo muito. E gritando e se jogando no chão. Nada me deixa mais feliz que isso.
6. Bom, dito tudo isso, quero ressaltar que gosto muito do Lúcio e sempre fui defensor do papel dele como jornalista pop. Acho que ele cumpre uma função necessária. E é gente boa. Esse lance da coluna dele foi só um estopim pra eu botar aqui algumas coisas que eu penso faz tempo.
7. Tô escrevendo isso no vácuo de uma semana de sonho em Montreal, vendo shows incríveis, conhecendo ídolos, vendo o Holger representar e ganhar muitos fãs por aqui, e tocando no encerramento do Pop Montreal numa noite que vai ser difícil de esquecer - o público invadiu o palco e ficou dançando em cima, não ia embora nem com as luzes do clube acesas; nunca na minha vida recebi tanto elogios por um set; e saí de lá aplaudido pela plateia. Sem tocar aquela do MGMT.
ps gosto muito do MGMT. Do disco, pelo menos.
2 de out. de 2009
pop montreal - dia 2
A noite começou com o show do Lullabye Arkestra, duo formado pelo Do Make Say Think Justin Small e sua esposa. O som é rock pesado, só com bateria, baixo e vocal. Show poderoso, mas que não faz jus ao primeiro disco do duo - uma mistura de White Stripes com Lightning Bolt -, seguindo a onda do disco novo, um rock mais direto. Valeu, de qualquer forma.
Corri de lá pra pegar um pouco do Fever Ray. A parada é poderosa. Tipo megashow, com figurino, lazer e tudo mais. O som, ao vivo, bate forte e a ambientação - muita fumaça, vê-se muito pouco do que rola no palco - acompanha a onda The Knife pra maconheiro da música dela. Legal, mas saí antes do final, pois queria ver o Butthole Surfers inteiro. Disseram que o fim do show foi um amontoado de frequências sonoras do inferno, que fez todo mundo sair correndo de lá passando mal. Queria muito ter visto isso.
Aí o Butthole Surfers. Era, se bobear, a banda que mais queria ver ao vivo. Tinha esperança que, de alguma forma, ressucitariam no palco a banda insana que eles um dia foram. Mas, do caos esperado, só o sonoro. E nem pro lado bom. Era o som que tava extremamente embolado. Muito ruim. Ao fundo, rolavam as famosas projeções, em três telões, mostrando coisas delicadas como uma cirurgia num pênis. Paul Leary parecia o único com vontade de estar ali. Ver o Gibby Haynes, de óculos, lendo as letras paradão foi decepcionante. Mais decepcionante foi ver a indiferença deles ante a reação agressiva dos seguranças pra cima da galera que arriscava um stage dive. Pensando bem, acho que esse foi um show bem Butthole Surfers, uma banda que nunca fez o que era esperado dela. E não posso negar que curti ouvir alguns "hits" das antigas ao vivo.
De lá, uma passadinha pra pegar o fim do show do Clues. Trata-se da banda nova do ex-Unicorns Alden Penner com o ex-Arcade Fire Brendan Reed, que lançou há pouco seu primeiro disco pela Constellation. O lugar, pra umas 700 pessoas, tava cheio pra ver os caras, que tavam fazendo um belo show, mostrando, com a competência esperada, um prog-indiepop grandioso. Bonito.
Depois, chegamos a tempo de ver o fim do show - de 25 minutos! - da Roxanne Shanté, pioneira do hip hop e uma das fundadoras do Juice Crew. A vibe no lugar, Club Lambi, o mesmo dos shows do Holger, Matt and Kim e Ninjasonik na noite anterior, tava no talo, com Roxanne mandando ver uma seleção inacreditável de clássicos do rap do anos 80. Aí, de repente, ela saiu do palco e não voltou mais. Foda-se. Foi demais assim mesmo.
De lá, todo mundo foi pra uma after party com discotecagem em soul em compactos, acompanhada de concurso de dança. Coisas que só acontecem por aqui: Cadence Weapon e o cara do Lullabye Arkestra participando do concurso. Incrível.
Corri de lá pra pegar um pouco do Fever Ray. A parada é poderosa. Tipo megashow, com figurino, lazer e tudo mais. O som, ao vivo, bate forte e a ambientação - muita fumaça, vê-se muito pouco do que rola no palco - acompanha a onda The Knife pra maconheiro da música dela. Legal, mas saí antes do final, pois queria ver o Butthole Surfers inteiro. Disseram que o fim do show foi um amontoado de frequências sonoras do inferno, que fez todo mundo sair correndo de lá passando mal. Queria muito ter visto isso.
Aí o Butthole Surfers. Era, se bobear, a banda que mais queria ver ao vivo. Tinha esperança que, de alguma forma, ressucitariam no palco a banda insana que eles um dia foram. Mas, do caos esperado, só o sonoro. E nem pro lado bom. Era o som que tava extremamente embolado. Muito ruim. Ao fundo, rolavam as famosas projeções, em três telões, mostrando coisas delicadas como uma cirurgia num pênis. Paul Leary parecia o único com vontade de estar ali. Ver o Gibby Haynes, de óculos, lendo as letras paradão foi decepcionante. Mais decepcionante foi ver a indiferença deles ante a reação agressiva dos seguranças pra cima da galera que arriscava um stage dive. Pensando bem, acho que esse foi um show bem Butthole Surfers, uma banda que nunca fez o que era esperado dela. E não posso negar que curti ouvir alguns "hits" das antigas ao vivo.
De lá, uma passadinha pra pegar o fim do show do Clues. Trata-se da banda nova do ex-Unicorns Alden Penner com o ex-Arcade Fire Brendan Reed, que lançou há pouco seu primeiro disco pela Constellation. O lugar, pra umas 700 pessoas, tava cheio pra ver os caras, que tavam fazendo um belo show, mostrando, com a competência esperada, um prog-indiepop grandioso. Bonito.
Depois, chegamos a tempo de ver o fim do show - de 25 minutos! - da Roxanne Shanté, pioneira do hip hop e uma das fundadoras do Juice Crew. A vibe no lugar, Club Lambi, o mesmo dos shows do Holger, Matt and Kim e Ninjasonik na noite anterior, tava no talo, com Roxanne mandando ver uma seleção inacreditável de clássicos do rap do anos 80. Aí, de repente, ela saiu do palco e não voltou mais. Foda-se. Foi demais assim mesmo.
De lá, todo mundo foi pra uma after party com discotecagem em soul em compactos, acompanhada de concurso de dança. Coisas que só acontecem por aqui: Cadence Weapon e o cara do Lullabye Arkestra participando do concurso. Incrível.
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1 de out. de 2009
pop montreal - dia 1
Tava pensando em escrever mais e tal, mas meu quarto virou base de banho do Holger e nesse momento tá todo mundo aqui. A casa onde eles tão só tem banheira. haha. Bom, o festival começou ontem. Anteontem à noite dei um rolê monstro pra ver o Ghislain Poirier e o Ghostbeard - chefão da Ninja Tune da América do Norte - discotecando numa espécie de house party na sede da cervejaria St-Ambroise. A ideia deles é fazer uma festinha intimista, tocando sem obrigação de fazer o pessoal dançar. Mas ainda assim tinha gente dançando. Tava chovendo e um puta frio, mas valeu a pena. O Poirier eu já tinha visto e sou fã. Ghostbeard comandou, fazendo beatmatching de raggae e dancehall.
Ainda com a fumaça - medicinal, diga-se - da noite anterior na cabeça, acordei com a ligação dos Holger dizendo que tavam na área. O dia foi intenso, correria fudida. Passou voando e, quando percebi, estava na passagem de som no Club Lambi, onde eles abririam pro Ninjasonik e Matt & Kim.
Em primeiro lugar, os caras se deram muito bem ao serem escalados pra essa noite. A única concorrência forte era o Jay Reatard. Ou seja, casa sold out, público animado e tudo mais. E, logo na primeira música, o Holger fisgou a molecada pra deles. A partir daí foi só lucro. Apesar do cansaço por causa da viagem, eles conseguiram mostrar o show habitual, com aquele sutil equilíbrio entre a eficiência e o caos, ora pendendo pra um lado, ora pra outro. Foi o suficiente pra arrancar gritinhos, coro da plateia, assédio após o show e muitos, muitos elogios, como o de Josh Jackson, editor da Paste, no Twitter: "A banda brasileira Holger é um pouco Vampire Weekend, um pouco Passion Pit e muita diversão".
Ninjasonik é sempre aquela festa, bases zoadas, raps zoados, mas tudo muito divertido. Ninjasonik é tipo a piada interna que deu certo, rimando sobre bases de bandas amigas e brincando com Michael Jackson ou fazendo todo mundo repetir infinitamente o mantra "They call us ninjafuckingsonik we are fuckingsonikninja". No fim das contas, todo mundo se diverte.
Finalizando, Matt & Kim fizeram mais um show daqueles. Começaram saudando o Holger ("great band from South America") e Ninjasonik, e demoliram o lugar. O chão da pista tremia, juro. O foda do show deles é a parada da troca. Eles funcionam com a empolgação e retribuem com um show incrível. "Imagina se rolasse uma doença que se disseminasse pelo suor", disse o Matt uma hora, ao ver o estado do público. Ficou claro pra mim como o público brasileiro é bunda mole. Essa foi a quarta vez que os vi ao vivo. E o show do Brasil foi o único show mais ou menos. Show mais ou menos pra uma plateia mais ou menos. Faz sentido.
Ainda com a fumaça - medicinal, diga-se - da noite anterior na cabeça, acordei com a ligação dos Holger dizendo que tavam na área. O dia foi intenso, correria fudida. Passou voando e, quando percebi, estava na passagem de som no Club Lambi, onde eles abririam pro Ninjasonik e Matt & Kim.
Em primeiro lugar, os caras se deram muito bem ao serem escalados pra essa noite. A única concorrência forte era o Jay Reatard. Ou seja, casa sold out, público animado e tudo mais. E, logo na primeira música, o Holger fisgou a molecada pra deles. A partir daí foi só lucro. Apesar do cansaço por causa da viagem, eles conseguiram mostrar o show habitual, com aquele sutil equilíbrio entre a eficiência e o caos, ora pendendo pra um lado, ora pra outro. Foi o suficiente pra arrancar gritinhos, coro da plateia, assédio após o show e muitos, muitos elogios, como o de Josh Jackson, editor da Paste, no Twitter: "A banda brasileira Holger é um pouco Vampire Weekend, um pouco Passion Pit e muita diversão".
Ninjasonik é sempre aquela festa, bases zoadas, raps zoados, mas tudo muito divertido. Ninjasonik é tipo a piada interna que deu certo, rimando sobre bases de bandas amigas e brincando com Michael Jackson ou fazendo todo mundo repetir infinitamente o mantra "They call us ninjafuckingsonik we are fuckingsonikninja". No fim das contas, todo mundo se diverte.
Finalizando, Matt & Kim fizeram mais um show daqueles. Começaram saudando o Holger ("great band from South America") e Ninjasonik, e demoliram o lugar. O chão da pista tremia, juro. O foda do show deles é a parada da troca. Eles funcionam com a empolgação e retribuem com um show incrível. "Imagina se rolasse uma doença que se disseminasse pelo suor", disse o Matt uma hora, ao ver o estado do público. Ficou claro pra mim como o público brasileiro é bunda mole. Essa foi a quarta vez que os vi ao vivo. E o show do Brasil foi o único show mais ou menos. Show mais ou menos pra uma plateia mais ou menos. Faz sentido.
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